Jonah Lehrer: insight + garra = sucesso
E isso não é frase de autoajuda, mas um processo cerebral. O autor e neurocientista explica como identificar uma boa ideia e não deixá-la morrer no meio do caminho.
A equação acima pode até parecer óbvia, mas nem todo mundo sabe como fazer uma boa ideia ser bem-sucedida. Para Jonah Lehrer, autor do livro “Imagine – How Creativity Works” (“Imagine – Como a Criatividade Funciona”, ainda sem edição no Brasil), o ingrediente que transforma aquele insight em sucesso é um traço de personalidade que ele chama de garra. Tudo isso começa no cérebro.
Você já deve ter ouvido alguém dizer: “não consigo terminar isso, preciso de uma cerveja” – ou “de um cigarro”, ou “dar uma volta”... Bem, isso é o cérebro se preparando para ter um insight. Pois é, se você achava aquela pessoa que diz ter ideias brilhantes no chuveiro excêntrica, precisa rever seus conceitos. Segundo Lehrer, o cérebro só encontra uma solução quando está relaxado.
Estudos científicos apontam, de acordo com o autor, que os insights acontecem em dois momentos principais. Primeiro, ele vem quando você menos espera. Depois, quando ele chega, vem acompanhado de uma sensação plena de que você encontrou a solução. “A resposta só vai chegar quando não estiver procurando por ela. Você sente que aquela é a resposta.”
Lehrer, um neurocientista que largou o mundo acadêmico para atuar como jornalista de publicações como Wired e New Yorker, esteve no Brasil para participar da Expo Gestão, evento que acontece em Joinville, e falou na Editora Globo com uma seleta plateia durante o Insights com Época NEGÓCIOS. Os conceitos de seu livro, um best seller nos Estados Unidos, serviram como base para a edição de maio da revista. A obra explora trabalhos científicos que destrincham o processo criativo e conta como as empresas estão tirando proveito disso.
Um dos exemplos citados por Lehrer é a Pixar, criadora de animações de sucesso como Toy Story e Procurando Nemo. Ele conta que, quando a empresa estava nascendo, Steve Jobs, fundador da companhia, rasgou o projeto arquitetônico original da sede. A planta mostrava três prédios que abrigariam os funcionários da empresa, separando as equipes de criação, animação, roteirização etc. Jobs achava crucial que todos interagissem. Não contente em juntar todos em um mesmo lugar, ele ordenou que os serviços para os funcionários estivessem em um mesmo lobby. Mas como as pessoas da mesma equipe tomavam café juntas e não se misturavam, Jobs resolveu ir a além e colocou apenas dois banheiros em todo o edifício. O resultado? “Hoje você anda pela Pixar e ouve histórias e histórias sobre como as pessoas tiveram ideias incríveis no banheiro.”
Esse fenômeno não é mero acaso. Para explicá-lo, Lehrer evoca mais estudos científicos que comparam as cidades a empresas. “As cidades nunca morrem, mesmo depois de catástrofes. Já as empresas, você as vê ‘morrer’ todos os anos”, diz. A razão, na opinião do autor, é que boas ideias atraem boas ideias.
Pegue uma cidade como São Paulo. Apesar do trânsito caótico, da poluição, da falta de segurança e dos inúmeros problemas, as pessoas continuam se mudando para a capital. Isso porque não são poucos os casos de quem vai para lá e melhora de vida, passa a ganhar mais e, por fim, conquista uma vida melhor – ainda que este seja um conceito que muda de individuo para indivíduo. “Mesmo nessa era de telas de plasma, Skype e outras tecnologias que nos permitem comunicar a distância, ainda é a interação humana que provoca faíscas.”
O mesmo não acontece com as empresas. Quanto mais elas crescem, menos criativas elas ficam. “Os executivos nos mandam continuar focados, o que vai contra o processo criativo”. Ou seja, a lição do cérebro para as empresas, afirma Lehrer, é: quando em dúvida, imite as cidades.
Quer encontrar a solução? Perca o foco
Imagine uma pirâmide gigante de ponta cabeça. Como suas medidas são perfeitas, ela está devidamente equilibrada em cima de seu pico. Em baixo da pirâmide está uma nota de R$ 100. Como fazer para tirar a nota de lá? Tire alguns minutos para pensar na solução.
Bem, a resposta correta seria: queime a nota. São R$ 100, ok, mas quem disse que você precisa preservar o dinheiro? O motivo porque não é fácil chegar à solução é que o cérebro foca no problema e não em como resolvê-lo. Essa é a razão de você ouvir histórias e histórias sobre pessoas que tiveram ideias geniais no chuveiro. Talvez seja por isso que Jobs, um dos executivos mais criativos do mundo, dizia que sua caminhada diária o fazia pensar melhor.
Para comprovar seu ponto, Lehrer conta como Bob Dylan quase desistiu da carreira. Era maio de 1965 e o cantor estava tão esgotado depois de uma turnê, que precisou se isolar do mundo. Naquele período de descanso foi que ele criou a música Like a Rolling Stone. A canção não apenas é um dos maiores sucessos de Dylan, como revolucionou o rock.
Mas o que faz de Dylan, Beethoven ou Jobs pessoas de sucesso? Garra, ou grit, o termo usado por Lehrer. Angela Duckworth, uma das maiores pesquisadoras sobre o assunto, define o termo da psicologia como “perseverança e paixão por objetivos a longo prazo” em seu principal trabalho sobre o tema.
Voltando à historia de Dylan, Like a Rolling Stone era na verdade um desabafo sobre o que ele estava vivendo e era muito maior do que a versão que conhecemos hoje. Ou seja, ele trabalhou muito para chegar ao resultado final. Beethoven, um dos maiores gênios da música clássica, costumava criar 70 versões diferentes para uma mesma frase musical. “No mundo real, o sucesso não é feito apenas de talento. É talento mais esforço.”
Turbine a sua equipe
Algumas dicas de Jonah Lehrer para criar um time verdadeiramente criativo
1. Não faça brainstorm, crie debates. A técnica clássica de brainstorm reza que você nunca critique uma ideia para que, ao fim de uma reunião, você tenha uma lista delas. Um estudo realizado por Charlan Nemeth na universidade de Berkeley apontou que um debate – situação na qual você precisa defender seu pensamento; geralmente de uma crítica – pode gerar ideias 40% melhores.
2. Crie equipes diversificadas. Os musicais de maior sucesso na Broadway partiram de equipes compostas por algumas pessoas que se conheciam e muitas pessoas que nunca tinham se visto antes, segundo um estudo feito por Brian Uzzi, na Northwestern University. Montar equipes diversificadas, seja culturalmente ou intelectualmente, é bom para o processo criativo.